30 de ago. de 2012

Naquele dia


E foi no dia mais importante para ela,
Que ela transformou o dia em dia.
E como se ainda não soubesse o bastante,
Conseguiu sair pela tangente e deixar tudo de lado.

Sem saber por que andava tão somente
Na decidida luz do aclamado dia,
Saiu e caiu no paralelo do poente –
Um passo adiante e outro inacabado.

Sem saber se nesse dia o importante
Era o segredo do futuro ou o medo do passado,
Saiu do quarto, atravessou a sala e a cozinha,
E caiu no claro do sol ensanguentado.

E nesse dia importante,
Sem medo e sem saber o que fazia,
Falou e fez o que ninguém jamais a consentia
E pensou: mais um sonho realizado...

Viena, agosto de 2012

22 de jun. de 2012

A casa está fechada

A casa está fechada.
Tem parede, tem janela, tem porta e tem saída.
Só não tem mais a entrada,
Porque a casa está fechada.

A casa está fechada.
Tem gente sentada à mesa, tem crianças na caminha.
Só não tem mais alimento,
A casa secou por dentro.

A casa está fechada.
Tem sofá, tem abajur, tem tapetes pelo chão.
Só não tem nenhum calor,
A casa encheu de bolor.

A casa está fechada.
Tem piso, forro e chaleira no fogão.
Só não tem o que beber,
A casa está a morrer.


Grota do junco, abril de 2011

13 de abr. de 2012

Cinco linhas

Fiz um poema de cinco linhas:
A linha primeira era sua,
A linha segunda era minha.


Fiz um poema de cinco linhas:
A linha terceira ia embora,
A quarta linha só vinha.


Fiz um poema de cinco linhas:
Quatro eram pra você,
Só a quinta era sozinha.


Cordilheira dos Andes, Abril de 2012

20 de jan. de 2012

O fundo do poço

Qual é o tamanho do fundo do poço?
É um tamanho colosso!

Qual é a distância da boca ao fundo?
Um mundo, um mundo!

Estando no fundo eu me reconheço?
Do fim ao começo!
Se é tão escuro, que posso enxergar?
O que não se vê com o olhar!

Se grito bem alto, alguém me responde?
O eco – já sabes de onde!

E nas paredes, tem corda ou escada?
São lisas, vazias, sem nada!

Quem pode dizer se este poço existe?
Só gente ferida, sozinha e triste!


Grota do Junco, janeiro de 2012