20 de abr. de 2019

Infinitos passos


Cento e cinquenta passos,
Pra frente e pra trás.
Duzentos passos para o lado,
Quem me fez não é quem me faz.

Trezentos passos perdidos,
Entre luzes e sombras no espaço.
São passos despercebidos,
Partículas, pedras, pedaços.

Infinitos são meus passos,
Onde piso a terra queima,
Passo sobre estilhaços.

Se a luz transporta o tempo
E o tempo compõe o universo,
Então quem é este inseto
Que voa sem deixar traço?

Grota do Junco, 2018

Para a Lia - I



Num buraquinho de chão
Morava um bichinho
Verde, rosa, amarelinho,
Olhinhos cor de açafrão.

Quando o bichinho nasceu,
Mundo ainda não havia.
Só um buraco no céu
E a chuvinha que caía.

Abril 2018

21 de mar. de 2019

Para a Lia



Um dia o sol esquentou,

Cobriu de calor todo o mundo.

A plantinha formosa secou

E o rio ficou lá no fundo.



O céu que nada sabia,

Achou que estava normal.

Mandou uma nuvenzinha

Passar por nosso quintal.



A Lia que era menina

Foi lá olhar a plantinha.

Estava tão pequenina,

Amarela e sequinha.



Olhando lá para o céu

Ela disse – “Nuvenzinha!

Aqui está meu chapéu,

Enche ele de aguinha?”



A nuvem já quase vazia

Ouviu a Lia a pedir.

Disse - “Traz uma bacia,

Pra água não escapulir



Correu pra casa a Lia

E pra mamãe perguntou:

Você tem uma bacia?

O meu chapéu já furou.



A mãe da Lia falou,

Bacia não tenho não.

Vai lá falar com papai,

Ele tem um canecão.”



E não é que a tal da Lia

Já de caneca na mão,

Correu pra nuvem vazia

Que água não tinha não.



Sentindo dó da menina,

A nuvem se espremeu.

Ficou assim pequenina

E umas gotinhas lhe deu.



A água era tão pouquinha,

Nem dava para enxergar.

A Lia ficou bem tristinha

E começou a chorar.

   
As lágrimas que caíam
No fundo do canecão,

Às gotinhas se uniam

E se tornaram um montão.



Vendo a água aumentando

Enquanto ela chorava,

A Lia foi se acalmando

E nem sequer ficou brava.



A nuvem sumiu no ar

E a Lia foi pro quintal

A sua plantinha regar.

O sol é que se deu mal.



Ponto final.

Grota, 20 de marco de 2019