Dizia o rico
profeta
“Aonde termina
o medo” - assim ele nos dizia.
E tendo um medo profundo,
Saí procurando a vida
E dei de cara com o mundo.
Aquele no qual eu vivia,
Era regido por leis,
Das quais eu pouco sabia:
A lei da mentira é constante.
A lei que meu mundo governa
Pro meu medo é o bastante.
Meu medo, qual é seu poder?
Se ele é o oposto da vida,
Somos mortos sem saber.
Se escondem e uivam de medo.
Crianças que acordam no escuro,
De medo abrem o berreiro.
Se tenho um amor profundo,
Do seu fim eu tenho medo.
Se o corpo me dói um pouquinho
O medo da morte me come.
Se a rua que ando é escura,
De medo apresso meu passo,
Se a porta me fecham na cara,
Meu medo me ajuda arrombá-la.
Que vida é essa que me veio:
Cheia de medo - e entretanto -
Que bela vida a que tenho!
Grota do Junco, Março de 2013