Tia Mariana tem uma ferida.
É na perna, é feia, é profunda, é doída.
E ela anda ainda: pequena, franzina, um pouco encolhida.
À noite enrola a gaze pra proteger a ferida.
De dia me mostra a perna azulada, a pele um agreste ressequido.
Enquanto ela despe a ferida, meu corpo se assusta.
De dentro de mim vem o enjôo, o pânico, a ira.
Aquele buraco na perna é como uma boca que suga,
O sexo que morre, o fundo do abismo.
Cerro os dentes, engulo a saliva e olho:
No fundo do poço, na perna magrinha
A ferida escura, o Alien da roça, grudado na pele,
Cresce, se alastra e se alimenta de Tia Mariana.
Paraibuna, Maio de 2010