10 de mar. de 2013

O medo e a vida




“A vida começa”,
Dizia o rico profeta
“Aonde termina o medo”
- assim ele nos dizia.


Seguindo palavras tão sabias
E tendo um medo profundo,
Saí procurando a vida
E dei de cara com o mundo.


O mundo que encontrei,
Aquele no qual eu vivia,
Era regido por leis,
Das quais eu pouco sabia:


A lei do mais forte é eterna,
A lei da mentira é constante.
A lei que meu mundo governa
Pro meu medo é o bastante.


Então eu me disse, perdida:
Meu medo, qual é seu poder?
Se ele é o oposto da vida,
Somos mortos sem saber.


Os bichos que andam no mato
Se escondem e uivam de medo.
Crianças que acordam no escuro,
De medo abrem o berreiro.
Se tenho um amor profundo,
Do seu fim eu tenho medo.
Se o corpo me dói um pouquinho
O medo da morte me come.
Se a rua que ando é escura,
De medo apresso meu passo,
Se a porta me fecham na cara,
Meu medo me ajuda arrombá-la.


E aqui continuo pensando
Que vida é essa que me veio:
Cheia de medo  - e entretanto -
Que bela vida a que tenho!

Grota do Junco, Março de 2013

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