Tem sol e chuva em São Paulo.
Tem feira livre nas ruas
E um povo que não conheço.
Tem barulho e tem luar,
Tem vento assoviando entre os prédios,
Tem muita gente comendo
E bebendo muita cerveja,
Mas não podem mais fumar –
O que é uma pena.
Gosto de cheiros em geral.
Sampa, novembro de 2009
26 de dez. de 2009
18 de dez. de 2009
Sem braço
A velhinha de branco caminha na praça
E só tem um braço.
Onde o outro seria, esvoaça a manga da blusa,
Despregada.
A ausência do braço deu à velhinha
Um andarzinho torto, envergado.
Anda tortinha a velhinha, olhando para o lado,
Como se estivesse à procura
Do braço cortado.
A praça encosta-se à porta da igreja
E ali fica, à espera de quem passa.
No céu, onde o sol seria,
Voam nuvens escuras, carregadas.
A manga leve e vazia,
Passinhos miúdos, olhar de cansaço,
Atravessa a praça a velhinha
Que ainda tem o outro braço.
Cunha, novembro 2009
A velhinha de branco caminha na praça
E só tem um braço.
Onde o outro seria, esvoaça a manga da blusa,
Despregada.
A ausência do braço deu à velhinha
Um andarzinho torto, envergado.
Anda tortinha a velhinha, olhando para o lado,
Como se estivesse à procura
Do braço cortado.
A praça encosta-se à porta da igreja
E ali fica, à espera de quem passa.
No céu, onde o sol seria,
Voam nuvens escuras, carregadas.
A manga leve e vazia,
Passinhos miúdos, olhar de cansaço,
Atravessa a praça a velhinha
Que ainda tem o outro braço.
Cunha, novembro 2009
28 de nov. de 2009
Vôo livre
A ave que não sabia
Em que galho pousaria,
Ficou no céu a voar.
O corpinho tão pequeno,
Umas asinhas assim -
Seguindo um vento ameno,
O voar não tinha fim.
A noite, porém, foi chegando
E do luar já se via
A luz se esparramando.
Avezinha, avezinha,
Que nenhum galho queria.
Pousou no céu que se abria
Pra recolher sua vidinha.
novembro 2009, para Diana Voigt
in memoriam
A ave que não sabia
Em que galho pousaria,
Ficou no céu a voar.
O corpinho tão pequeno,
Umas asinhas assim -
Seguindo um vento ameno,
O voar não tinha fim.
A noite, porém, foi chegando
E do luar já se via
A luz se esparramando.
Avezinha, avezinha,
Que nenhum galho queria.
Pousou no céu que se abria
Pra recolher sua vidinha.
novembro 2009, para Diana Voigt
in memoriam
24 de out. de 2009
Feijoada de sábado
Hoje, de relance, vi o seu rosto
Naquele restaurante de esquina,
Muito badalado.
E você olhando de lado,
Ah, olhando de lado...
Foi apenas um instante
A visão do restaurante
Lotado,
Ah, muito lotado.
Se eu ficasse ali parada
Prá ver se você me via,
Um cardápio alguém traria.
E eu que fome não tinha,
Ia pedir feijoada,
Ah, ia pedir feijoada.
Ia ficar bem sem graça,
Me enroscar no tira-gosto,
Ler o menu todo errado.
(E o seu gosto é delicado,
Ah, ele é muito delicado.)
Só que passei ligeirinha,
E o restaurante famoso
Que nem feijoada tinha,
Engoliu na sombra o seu rosto
E a vergonha que era minha.
Cunha, 24.10.2009
Naquele restaurante de esquina,
Muito badalado.
E você olhando de lado,
Ah, olhando de lado...
Foi apenas um instante
A visão do restaurante
Lotado,
Ah, muito lotado.
Se eu ficasse ali parada
Prá ver se você me via,
Um cardápio alguém traria.
E eu que fome não tinha,
Ia pedir feijoada,
Ah, ia pedir feijoada.
Ia ficar bem sem graça,
Me enroscar no tira-gosto,
Ler o menu todo errado.
(E o seu gosto é delicado,
Ah, ele é muito delicado.)
Só que passei ligeirinha,
E o restaurante famoso
Que nem feijoada tinha,
Engoliu na sombra o seu rosto
E a vergonha que era minha.
Cunha, 24.10.2009
26 de ago. de 2009

Curva de Rio
O bairro do Paraibuna
É igual curva de rio
A tranqueira aqui se encalha,
Livrar dela é um desafio.
Gente cheia de malicia,
Contando papo furado,
Ou fugindo da policia
Ou de amor desenganado,
Gente sofrendo do juízo,
Todos param por aquí,
Em busca do paraíso
Que eu achei e já perdi.
Gente com o pé na cova
Sem ter onde cair morto,
Chega aqui e já é prova
Que o direito acaba torto.
Gente que se atrapalha
E arma encrenca demais,
Que só é fogo de palha,
Um pé na frente e outro atrás.
Gente falando grosso,
Contando papo a valer
Com o laço no pescoço
Vive no bar a beber.
Sai assim cruzando as pernas,
Errando o caminho da casa.
Se mete em muitas badernas,
É passarinho sem asa.
Ir se embora não tem jeito
Se mudar não dá mais pé
Só dá pra esquentar o peito
Bebendo pinga com “mé”.
O bairro do Paraibuna
É igual curva de rio
A tranqueira aqui se encalha,
Livrar dela é um desafio.
Gente cheia de malicia,
Contando papo furado,
Ou fugindo da policia
Ou de amor desenganado,
Gente sofrendo do juízo,
Todos param por aquí,
Em busca do paraíso
Que eu achei e já perdi.
Gente com o pé na cova
Sem ter onde cair morto,
Chega aqui e já é prova
Que o direito acaba torto.
Gente que se atrapalha
E arma encrenca demais,
Que só é fogo de palha,
Um pé na frente e outro atrás.
Gente falando grosso,
Contando papo a valer
Com o laço no pescoço
Vive no bar a beber.
Sai assim cruzando as pernas,
Errando o caminho da casa.
Se mete em muitas badernas,
É passarinho sem asa.
Ir se embora não tem jeito
Se mudar não dá mais pé
Só dá pra esquentar o peito
Bebendo pinga com “mé”.
Fevereiro de 2007
25 de jul. de 2009
Sábado de Aleluia

Os tições estralam no fogo aceso
Que tenta tirar a frieza do dia –
E frio ele está, assim neblinoso,
Ainda confuso, não sabe se abre
Espaço pro sol, ou fecha e se encolhe
À espera da chuva.
Ah, dia estranho, aqui me coloco
À tua procura –
Se abres, morro de felicidade,
Se fechas, me enrolo e me perco no escuro.
Podia ter sido assim diferente?
O começo de um caso
Ou o fim de um futuro?
Estrala no fogo tiçãozinho aceso,
Me acorda e me abre,
Me salva do medo.
Que tenta tirar a frieza do dia –
E frio ele está, assim neblinoso,
Ainda confuso, não sabe se abre
Espaço pro sol, ou fecha e se encolhe
À espera da chuva.
Ah, dia estranho, aqui me coloco
À tua procura –
Se abres, morro de felicidade,
Se fechas, me enrolo e me perco no escuro.
Podia ter sido assim diferente?
O começo de um caso
Ou o fim de um futuro?
Estrala no fogo tiçãozinho aceso,
Me acorda e me abre,
Me salva do medo.
Abril de 2006
5 de jul. de 2009
Pegadinha boba

Peguei o carro e saí,
Passei no sinal errado.
Me arrisquei, quase morri,
Sem pensar no resultado.
Besteiras se fazem aos montes,
O certo está definhando.
As águas não morrem nas fontes,
Meu corpo está congelando.
Se morri foi porque quis,
Se vivi foi por paixão.
Já quebrei o meu nariz
Mas mantive o coração
Viena, 20.06.2009
Passei no sinal errado.
Me arrisquei, quase morri,
Sem pensar no resultado.
Besteiras se fazem aos montes,
O certo está definhando.
As águas não morrem nas fontes,
Meu corpo está congelando.
Se morri foi porque quis,
Se vivi foi por paixão.
Já quebrei o meu nariz
Mas mantive o coração
Viena, 20.06.2009
Assinar:
Postagens (Atom)